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sábado, 9 de outubro de 2010

Eleito pelo PSOL, o ex-BBB Jean Wyllys não quer ser só ex-BBB


Sem vincular o seu passado de Big Brother à política, o jornalista e professor universitário Jean Wyllys elegeu-se deputado federal pelo Rio de Janeiro, apesar de ter obtido apenas 13.018 votos. Ele acabou alçado ao Congresso Nacional pela votação do deputado reeleito Chico Alencar, o escolhido de mais de 240.000 eleitores. Mesmo beneficiado pela carona do colega de partido, Wyllys, critica o critério de divisão de tempo no horário eleitoral gratuito. “Se o partido tivesse me dado algumas das inserções ou mesmo tivesse dividido ao meio o tempo de algumas delas entre o deputado Chico Alencar e eu, minha votação teria sido mais expressiva e, talvez, ajudasse a fazer um terceiro deputado pelo PSOL. Acontece que, para o partido, a reeleição do Chico Alencar era a prioridade”, pondera Wyllys, que ganhou o BBB-5 com 50 milhões de votos, e lamenta o fato de o programa despertar mais interesse que as eleições.

O novo deputado do PSOL reage com bom humor às comparações com o político americano Harvey Milk, primeiro gay assumido a se eleger nos EUA, cuja militância a favor dos homossexuais se notabilizou mundialmente a ponto de ganhar uma cinebiografia estrelada por Sean Penn. “Fico lisonjeado, sou um filho de Milk”, exalta Jean, afirmando que vai lutar pelo direito à adoção de crianças por casais gays e procurar seus pares na defesa dos direitos dos homossexuais, mas que estará no Congresso “para defender o povo brasileiro, independente da opção sexual”.

Você acredita nos políticos?
Em alguns, sim. É preciso parar de alimentar esse senso comum nefasto de que todo político não presta, é corrupto, quer enriquecer ilicitamente e legislar em causa própria. Isso não é verdade. Há políticos ruins, mas há muita gente boa, preparada e honesta.

Você recebeu 13.018 votos nesta eleição a deputado federal contra mais de 50 milhões de votos quando ganhou o BBB 5. Por que tamanha discrepância?
Eu evitei deliberadamente colar minha candidatura à participação no BBB, que foi em 2005. Não queria aparecer como celebridade, que não sou, então as pessoas que votaram em mim fizeram isso necessariamente me associar ao programa. Mas sem dúvida nesta sociedade capitalista e do consumo hedonista, o entretenimento é mais sedutor e prazeroso do que a política. No caso específico do BBB, o clima de melodrama que envolve os realities, seja por conta das histórias de vida em jogo, seja por conta dos conflitos priorizados pela edição, faz com que as pessoas se envolvam mais com eles do que processos eleitorais “sem graça”. Infelizmente, volto a dizer.

A maioria das pessoas que acompanhou sua trajetória na tevê não viu as suas aparições no horário eleitoral gratuito. Para que serve a propaganda eleitoral obrigatória na TV?
O problema não é a obrigatoriedade do programa, mas o tempo que é destinado a cada partido. Como o tempo é dividido de acordo com as bancadas das coligações no congresso nacional ou assembléias, partidos menores e sem coligações como o PSOL têm pouquíssimo tempo no programa eleitoral e nas chamadas inserções nos intervalos comerciais da tevê. No meu caso, como o Chico Alencar era o puxador de legenda do partido, todas as inserções ficaram pra ele, além de ele ter um tempo bem maior que o meu no programa eleitoral, sendo que a grande maioria desliga a tevê na hora deste programa. Se o partido tivesse me dado algumas das inserções ou mesmo tivesse dividido ao meio o tempo de algumas delas entre o deputado Chico Alencar e eu, eu teria uma votação mais expressiva mesmo tendo feito uma campanha ecologicamente correta e, talvez, ajudasse a fazer um terceiro deputado pelo PSOL. Sou a favor do financiamento público de campanha e de regras mais justas na divisão do tempo para contemplar os partidos menores.

Por que você não aceitou doações de pessoas jurídicas nem a ajuda de militantes de aluguel em sua campanha?
O PSOL não aceita doações de pessoas jurídicas por entender que esse tipo de doação pode ser o início da corrupção que vigora nos podres executivo e legislativo. Quem “doa “quer um retorno depois. Quanto a pagar militantes, além de eu ter feito uma campanha de pouquíssimos recursos (quase todos meus e de minha coordenadora), não faz qualquer sentido militante pago; militante milita por ideologia e não por dinheiro. Todos que se engajaram em minha campanha fizeram isso por acreditar em mim e minha causa.

Você também é um notório militante do movimento gay. Qual será a sua primeira medida em benefício aos gays, negros e às outras minorias que você defendeu em sua campanha?
Antes de ser um notório militante do movimento gay, eu sou um defensor dos Direitos Humanos. É como defensor dos Direitos Humanos e das liberdades constitucionais – e, claro, por ser gay assumido, logo, parte de um coletivo com cultura e demandas específicas – que eu abraço as bandeiras do movimento gay. Minha primeira medida será me integrar às comissões de Direitos Humanos e de Educação da Câmara dos Deputados, bem como ampliar a frente parlamentar pela livre expressão sexual, para, a partir daí, legislar em favor das minorias, entre as quais está também o chamado “povo de santo”, tão demonizado e perseguido por cristãos fundamentalistas.

Como você vê a comparação com Harvey Milk, primeiro político assumidamente gay a conquistar um cargo eletivo nos Estados Unidos?
Fico lisonjeado na medida em que sou “filho” de Milk, ou seja, do moderno movimento gay. Sem Milk e outros tantos que conquistaram, a duras penas, as liberdades que hoje gozamos, sem eles, Jean Wyllys não seria possível. Não sei de quem partiu a comparação. Considero-a um tanto exagerada, mas ela me deixa feliz porque admiro bastante a trajetória política de Harvey Milk.

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