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domingo, 20 de abril de 2014

As muitas faces das transgêneras

 


































Elas, Madalenas', do fotógrafo Lucas Ávila, retrata o universo das trans

Raíssa Lopes - Belo Horizonte (MG)


Travestis, transexuais, drag queens, transformistas... Todos estamos acostumados a vê-los à noite. Mas, por quê? O questionamento e a curiosidade sobre o tema levaram o fotógrafo e jornalista Lucas Ávila à criação da exposição “Elas, Madalenas”, que fica em cartaz de 9 a 29 de abril no Memorial Minas. A mostra reúne imagens que retratam o dia a dia das pessoas trans de Belo Horizonte e pretende desmistificar a ideia de que elas estão sempre ligadas ao sexo e à prostituição.

As fotografias são resultado de três anos de pesquisa e convivência do artista com transgêneras de diversas idades, profissões e classes sociais. “No início, meu projeto daria visibilidade somente às travestis, então fui falar com Nero, trans lendária na cidade que possui um salão na Galeria do Ouvidor. Segundo o dicionário, Nero se enquadraria totalmente nessa definição de ‘travesti’, mas quando cheguei lá, ouvi ‘eu não sou travesti’. Perguntei qual definição deveria usar e a resposta foi ‘não sou ele nem ela, eu sou Nero’”. Lucas conta que esse momento foi extremamente importante para que entendesse melhor questões relacionadas à identidade de gênero e classificação. “Deu aquele ‘click’. Pensei ‘quem sou eu para falar que Nero é travesti se nem ele se reconhece assim?’”, declara.

A realização de “Elas, Madalenas” foi possível a partir de financiamento coletivo online. Orçada em R$6.500, três dias depois de lançada já havia alcançado o valor necessário. Após 25 dias, recebeu R$10.830. Mesmo com todo apoio dos internautas, Lucas encontrou resistência dos museus da capital.  “Fiquei um ano tentando arrumar lugares para expor. Tentei em todos possíveis, e era sempre a mesma resposta. Os espaços culturais de BH são engraçados: ou são muito caretas ou dependem de lei de incentivo. Recusavam meu trabalho porque sabiam que daqui a dois meses chegaria um projeto custeado pela lei e que pagaria muito mais a eles do que eu poderia pagar”, afirma.

Somente depois de entrar em contato com o Núcleo de Diversidade de Gênero da Secretaria Municipal de Educação, que promove parcerias com alguns centros culturais da cidade, o jornalista conseguiu locação para a mostra. “Nunca quis expor esse trabalho apenas para pessoas e lugares abertos ao tema. Queria dialogar com o público conversador, sabe? Ver a minha avó lá. E acho que nada mais conservador que a Praça da Liberdade”, explica Lucas.

 Militância

O jovem menciona que depois de se aproximar do universo das transgêneras percebeu o quanto o grupo era marginalizado. “Eu achava que o morador de rua era o que mais sofria com preconceito, mas não, é a travesti. Vivemos em um sistema capitalista e para elas nem boa condição econômica é sinal de valorização. As travestis ricas sofrem a mesma discriminação das que moram na rua”, relata Lucas, que se tornou militante da causa.

Ele chama a atenção para a expectativa de vida das travestis - de 35 a 40 anos - e afirma que as instituições não estão preparadas para acolher pessoas trans. “Se nasci com uma condição e quero manifestá-la, sou banida da família, da escola, do mercado de trabalho. O que me resta? Prostituição, tráfico de drogas ou salão de beleza. E se eu não tenho talento como cabeleireiro?”, questiona.

A partir do seu trabalho, o fotógrafo deseja que a transgeneridade seja vista com naturalidade. De acordo com Lucas, são fotos que mostram pessoas trans em casa, varrendo o chão, executando tarefas cotidianas comuns a todos. A vida de uma travesti que é professora de tênis na UFMG e de outra que adora caminhar pelo Parque Municipal fazem parte do acervo.
  
"Elas, Madalenas"

O nome é uma tentativa de provocar o pensamento crítico dos espectadores. Segundo Lucas, a personagem bíblica Maria Madalena sempre foi estigmatizada, assim como as pessoas trans. “Ela é a pecadora, a apedrejada, mas a Bíblia a reconhece como santa. As transgêneras também são vítimas do desconhecimento, presas a um estereótipo que não existe”.

Serviço

 A exposição fica em cartaz de 9 a 29 de abril, com entrada gratuita. O Museu Minas (Praça da Liberdade) abre todas as terças, quartas, sextas e sábados, das 10h às 17h30, quintas das 10h às 21h30 e domingos, das 10h às 15h30.

Fonte: Brasil de Fato

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